sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Papel

Trabalhei o mês inteiro
Inclusive os dias que não queria trabalhar
E ganhei um punhado de papel.
Papel para comer
Papel para ir e voltar
Papel demonstrativo
Papel para gastar.

Tô cheio de papel,
onde está a riqueza?
Não digo de enormes quantidades
Mas, batalhamos por um maço de papel?
Só papel?

Desde criança tentei entender
A aflição de minha mãe
Quando, ao lavar as calças de meu pai
E esquecer de revistar os bolsos
Lavar o papel junto com a roupa
E, quase desesperada, ao constatar a lavagem,
Pôr os papéis para secar, no varal.

“Homem feliz é homem cheio de papel”

Continuo a labuta sem entender
Como vivemos apressados caçando papel;
Papel, papel, papel.
A humanidade inteira o almeja ardentemente
Seja para matar a fome,
Seja para matar o próximo,
Seja para curar a vaidade
E também o orgulho.

Quanto mais se tem papel
Mais papel se quer.
É o fim para que serve ou o próprio papel em si que seduz?
Mas, como o sistema é forte
Vou me virando com o papel que tenho.

Por enquanto
Vou desfrutando do papel só pra escrever,
Relatando dúvidas e dilemas
Sem pagar dívidas;
Redijo poemas
Redigo problemas
E tento criar minha própria riqueza
Ilusoriamente real
E somente ilusória para os materialistas.

Papel, papelinho, papelão
É o que todo o mundo quer
É o nosso mundo fraco, vão.

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