sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Questão

Deixaria eu de ser poeta sem a musa?
Amputadas as mãos e os desejos, quem seria eu?
Se me arrependesse do que faço quem teria compaixão?
Quem seria eu, se eu não fosse eu mesmo?
O que seria? Um objeto?
Um lápis quebradiço e fugaz?
A folha manchada de sangue esferográfico?
O pensamento abortado na sua origem?
O fim do impulso que dá origem ao pensamento?
Penso. Não existo. Sem cabeça quem há de pensar algo?
Sou apenas a sombra da sombra da penumbra
Alheio ao meu eu me mim comigo,
Sou o que está por trás do cenário da mente,
Quem ri de tudo e todos
O que cutuca a ferida só pra fazer jorrar o pus.
Sento-me, cruzo os braços e o espetáculo prossegue,
Não sou alguém. Não serei punido.
Deixaria eu de viver se parasse de existir?
Existiria eu se não passasse de um espermatozóide invocado?
Um gameta enxerido e insignificante?
Uma porra louca?!
Hein!
Imaginem, por um momento que não sou e não existo.
O mundo está melhor?
Estando melhor, retorno e estrago tudo novamente
Com o indicador sobre a boca e querendo rir
Rir da realidade, esbofeteá-la
Como um moleque sujo, travesso e indispensável
Pois, queiram ou não,
Sou poeta e nunca o deixarei de ser.

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