A dor que punge e rasga a alma
É o sofrer, sofrer sozinho
Em todas as ferpas do caminho
Não ter alguém, nenhum carinho
Que console o menininho.
A ferida tocada
Sangra, e se dilacera
Em sua essência desgraçada,
Nada alivia a dor; punge.
“Eli, Eli, lama sabachtani”
sofrer a dor na hora certa
saber sofrer, romper gemido
até chorar, se permitido
derrame a lágrima,
chore o pranto
derrame a dor,
sofra. Calado.
A dor só cabe a quem sofrer
A lágrima, portanto
É o resultado, o produto
De um conter sofrido
De um pranto desalentado
Uma vontade de abraço
Sem os braços ter pra si.
Possível é um pranto sem lágrimas,
Mas da dor a lágrima é a beleza;
O desaguar eruptivo
Da introspeção do choro
Que lança para fora
A salgada tristeza
Do pranto completo e verídico.
Válvula de escape para a alma.
Deixem o menino chorar.
Só.
Sentado num tronco
Rotos os vestidos
Sem fome, sem problemas
Deixe-o que chore.
Só.
Sofra menino. Só
Permita que o choro quente
Queime o rosto,
escorra,
escorra,
escorra,
e chegue ao chão,
onde irá secar
Só.
Onde irá secar
Simplesmente e só
No chão. Só
Sofrer.
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