sexta-feira, 31 de agosto de 2007

CFTV

Vejo pessoas conversando
O que discutem?
Vejo sorrisos superficiais,
O que escondem?
Vejo carros e avenidas
Placas e aflições
Desejos submersos e ansiedades externadas
Vejo o ar que carrega as paixões
Como num vulto dilacerado de volúpia indecisa
Vejo eternas meninas
E efêmeros casais
O quê transam?
Vejo as dúvidas das árvores
E incertezas das faixas de pedestres
Juntamente com a pressa de se ter pressa
De se antecipar ao que não é concreto.
Vejo tudo isso num lapso de impressões
Tudo isso estampado em ilusões escancaradas
Estupros de olhares tergiversados
Que se esquivam de onde não convém
Me vejo espatifado no externo, na grama pisada
Tentando universalizar um anti-ego
Que corrompe a moral sem desmoralizar a ética
Que se impõe furtivamente no lábio receptivo
Que soa na voz do pobre favelado
Reflito-me nas lágrimas de tetos trincados
Sem querer destruir as assimetrias
Me posiciono no centro da placa de advertência
E saboreio o sabor de estacionar no proibido
Levando a vantagem de não pagar a multa
Me situo nas ofensas de trânsito, transitórias
Percorro as vias arteriais duma rua que não é
Almejando alcançar a ribanceira
E atirar, atirar, atirar...
Cada torcida de pé, cada gota de suor
Eternizar
E nunca finalizar esse sonho maldito
Essa mentira, este insulto
Essa desgraça deliciosa
Essa vida, essa generosa
Incerteza.

Um comentário:

Paulo T. Matiuzzi disse...

Adorei o CFTV! É muito foda, complexo , insano e técnico! Acho que me identifiquei de verdade com ele!