sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Reflexão desconcentrada

Gosto de Sampa,
Gosto do Samba.
Penso no boteco entrecortado no buraco.
Monóxido nocivo,
Dióxido ativo.
É tudo que respiro neste ar contaminado.
Leio um livro,
Aos poucos me livro.
Quero me igualar aos escritores consagrados.
Faço um poema,
Qual é o problema?
Um dia vou morrer e quero ser reconhecido.
Ardem meus olhos,
Choram seus molhos.
O céu está cinzento e carros zunem na avenida.
Não sou famoso,
Mas sou charmoso.
Tenho um emprego, namorada e família.
Quero escrever,
Quero só viver
Outro dia lindo vai nascendo lá de longe
Eu não sou rico
Mas sou o Drico
Quem sabe um dia então eu possa ter um nome artístico?
Eu não sou mágico
Posso ser trágico
Disparo pensamentos; furtos, folhas de rascunho
Fico sentado
Ao mundo alheio
Enquanto outros tantos choram silêncios perdidos
Caneta nociva
Manchada, ativa
Cúmplice de pensamentos extras, raciocínios
Papel branquinho
Virgem, novinho
Propenso para ser violentado e escrito
Livros ocultos
Tesouros atados
Reflexo da imaginação preponderante e recatada
Musa inspiradora
Mitologia grega
É muita porcaria para universitários
Palavras ditas
Feridas sangrando
Aquilo que foi dito é uma lança que trespassa
Mundo girando
Pessoas automáticas
Rotina desgraçada vai matando os sentimentos
Dedo doendo
Livro do lado
Ou me ardem as vistas, ou o dedo machucado
Preciso pensar
No infinitivo
Sentir, querer, pisar, voar, viver no particípio
Tempo verbal
Verdade absoluta
Ou se crê em Deus ou vá sozinho para a luta
Morte certeira
Acidente de trânsito
Uma cassetada faz o boy morrer mais cedo
Dia monetário
Bolsa de valores
Pessoas preocupadas se o dólar “tá” em alta
Vida perdida
Sonho esquecido
Dinheiro não é tudo, é difícil convencê-los
Retrato manchado
Poema escrito
A arte imita a vida e a vida imita nada
Reflexo ignorado
Fato oculto
O chão que a gente pisa não é santo como pensa
Tarde embora
Noite chega
E outro dia finda seu ciclo.
Vida imensa
Morte certa
Mas nem por isso deixemos de buscar o infinito
O infinito das coisas simples e belas
Do bolo de fubá, do feijão com farinha
Do cabelo bagunçado daquela irmã mais velha
Da barriga molhada da mãe lavando louça
Do cachorrinho contente e atrapalhando seu passo
De chegar em casa outra vez
De ver a beleza oculta como uma escultura ainda não talhada
De sentir o sabor da água
De ter ciência que está vivo e respirando
Saber que você pode mudar o mundo ou simplesmente deixá-lo seguir seu rumo.
Mesmo que mundo seja apenas,
A sua cabeça cabeluda e cheia de caspa.
Ouvir as pessoas relatarem pedacinhos de sua vida e saber que,
Depois disso você nunca mais será o mesmo.
Poder sonhar, poder ser, ter o poder de querer;
E acima de tudo o poder de amar.

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