sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Impressões

Hoje eu acordei;
(como de fato se acorda)
olhei pela janela do ônibus
e duvidei
duvidei daquelas moças
e daquela imagem impressa que me percorria
duvidei daquele sangue lavado, esquisito, invisível
questionei, sem filosofar
a fisiologia de um pensamento
que me incitava a descuidar da existência
do sangue de barata
da fumaça obrigatória.

Engoli saliva ponderativa
Disritmia de mente sem controle
Despadrão de um despropósito disparatado
Não era poesia, gente
Eu não sei dizer o que era
Tampouco se era realmente
Pois não enxerguei
Nenhum verbo de ligação
Que pudesse estabelecer a pobre, estranha, limitada
E ridícula coerência.

Eu fui; não pelo caminho do vento,
Mas pelo caminho do esgoto
Vi beleza na triste e sórdida azulidão
Gostei dos erros gramaticais, de sintaxe e morfologia
Porque, para mim,
Isso tudo é uma coisa ruminada, ralada e mofada
Cheia de penicilina, de faíscas encalacradas
Cheio de FURO NO OLHO, PORRA!

Me solta! Me deixa aqui
No cantinho úmido.
Vocês têm uma mania feia
De padronizar a higiene!

Ah, sim! Aí eu achei um vácuo de sentimento
Um negócio de momento
De escapar do tempo, templo da cronometragem.

Gritei no particípio
Infinitivo do desespero aleatório,
Sem máscara o sangue escorreu
E me deixou nu.

Vaguei pelo espaço
Na dança cósmica do balé acidental
E fui girando, girando, gerúndio
Até que o ônibus capotou
E girou no sentido anti-horário
De todas as nossas estúpidas convicções humanas.

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