Queria eu andar mais devagar;
Passear no passeio sem tropeçar;
Poder olhar a copa da árvore
E ficar ali, a contemplar,
Sem Ter que me desviar dos transeuntes.
Não em solidão, mas em tranqüilidade
Olhar as janelas curiosamente,
Ler anúncio por anúncio
E até as embalagens ao chão,
Cumprimentar aquele estranho;
Sorrir e respirar o ar,
Ou até cantar uma canção
Aqui mesmo, nesta cidade,
Não gostaria de sair daqui
Este deveria ser o lugar perfeito.
Queria eu não ter que correr
Involuntariamente para alcançar
O ônibus
E, com tantas outras pessoas apressadas,
Ter que dividir um espaço tão pequeno e disputado
Queria também poder dormir
Mais dez minutos sem que, quando
Olhasse no relógio houvesse passado duas horas e meia
E ter perdido a consulta no dentista.
Os minutos deveriam ser mais volumosos
Expansivos, calmos, menos ritmados,
Contar o tempo somente com batidas do coração.
Os dias atabalhoam e vulgarizam-se;
Tempo é dinheiro, dizem,
Mas há alguém lá em cima que está querendo
Que sejamos mais e possuamos menos,
Por isso encurta o tempo.
Queria eu dar mais um beijo
De despedida
Sem ter que acelerar ao máximo
O carro, para não chegar atrasado
Ao trabalho.
Parar naquela faixa
De pedestres para a senhora
Atravessar a rua calmamente.
Também comer e mastigar
Majestosamente,
E não engolir a comida toda (congelada)
Num só golpe (inclusive talheres e os dentes).
Queria ter tempo,
Rios, oceanos, constelações
Enfim, uma grande reserva
De tempo para ser e pensar.
Que o tempo não traspassasse
Nossas carnes e enrugasse
Nossas peles, fazendo-nos
Tão céticos ou simplórios.
Os dias passam atrelados
A uma hélice de exaustor
Que expulsa o tempo do tempo.
Gostaria de poder terminar
Este texto,
Mas não dá tempo.
Desculpem, estou atrasado.
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