Nasci adulto.
Sabia ler, tinha orgasmos,
Fumava e usava óculos.
Sabia mentir, fingir.
Ao nascer
Devorei minha genitora
E vomitei a consciência
Para não agir emocionalmente.
Devorei o médico
A enfermeira
E outros bebês
Para sobreviver.
Era eu um
bebê capitalista?
Vivi somente para meu corpo,
Meus interesses,
Minha fome,
Minha necessidade.
No entanto
Quando cresci
E me tornei criança
Me despi de tudo.
Aprendi a sorrir
A ser infantil
A fazer de pequenos instantes
Grandes momentos.
E vi, sim eu vi
Que a felicidade
Era um anjo
Disfarçado de mendigo.
Os que a desprezaram
Por sua aparência
Nunca obtiveram paz
Procuraram cegamente.
Procuraram na bebida
No jogo, no rótulo
No amanhã, e no maço
De papel timbrado.
Rodavam atônitos
Como insetos insanos
Sem nexo, sem valor
Sem piedade.
Quando deveriam
Estar ajudando-se
Mutuamente; embriagavam-se
De pensamentos tóxicos.
Poluíram suas almas
Com monóxido de rancor
E dióxido de mentira,
Substâncias letais.
Por isso nasci adulto,
Não havia tempo
Para a infância
Nasci pronto.
Prático e rápido
Como um delivery.
E felizmente cedo
Descobri a felicidade
Ela estava rota
Escondida no âmago.
Ser feliz
Não é “ter” feliz
Se fossemos mais
E tivéssemos menos
Viveríamos.
Não eternamente
Mas por átimos
De instantes
Seríamos perfeitos.
Como uma criança.
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