sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ostensivo paradoxo

Nasci adulto.
Sabia ler, tinha orgasmos,
Fumava e usava óculos.
Sabia mentir, fingir.

Ao nascer
Devorei minha genitora
E vomitei a consciência
Para não agir emocionalmente.

Devorei o médico
A enfermeira
E outros bebês
Para sobreviver.

Era eu um
bebê capitalista?

Vivi somente para meu corpo,
Meus interesses,
Minha fome,
Minha necessidade.

No entanto
Quando cresci
E me tornei criança
Me despi de tudo.

Aprendi a sorrir
A ser infantil
A fazer de pequenos instantes
Grandes momentos.

E vi, sim eu vi
Que a felicidade
Era um anjo
Disfarçado de mendigo.

Os que a desprezaram
Por sua aparência
Nunca obtiveram paz
Procuraram cegamente.

Procuraram na bebida
No jogo, no rótulo
No amanhã, e no maço
De papel timbrado.

Rodavam atônitos
Como insetos insanos
Sem nexo, sem valor
Sem piedade.

Quando deveriam
Estar ajudando-se
Mutuamente; embriagavam-se
De pensamentos tóxicos.

Poluíram suas almas
Com monóxido de rancor
E dióxido de mentira,
Substâncias letais.

Por isso nasci adulto,
Não havia tempo
Para a infância
Nasci pronto.

Prático e rápido
Como um delivery.

E felizmente cedo
Descobri a felicidade
Ela estava rota
Escondida no âmago.

Ser feliz
Não é “ter” feliz
Se fossemos mais
E tivéssemos menos
Viveríamos.

Não eternamente
Mas por átimos
De instantes
Seríamos perfeitos.

Como uma criança.

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